Sara Azad

1 – Neste projecto e processo de ilustrar um livro infantil como Um Natal nos Açores, ou como o Pai Natal trocou as botas de canos pelos chinelos, qual foi o fator ou razão que te motivou a embarcar nesta aventura? Responder que não tinhas nada de melhor para fazer não vale, ok? 

Por acaso até tinha algo melhor para fazer, mas o sonho da minha vida sempre foi querer ilustrar o Pai Natal de chinelos. Mal comecei a ler o texto soltei uma gargalhada e disse: ok, vamos nessa. O humor chamou-me logo à atenção assim como o facto de a história se passar nos Açores. Fiquei logo com um turbilhão de ideias na minha cabeça, ainda para mais com um tempo de execução tão curto, era perfeito, porque eu sempre adorei stress.

2 – O teu traço é muito particular e peculiar. Quais as tuas grandes referências e estilos? E já agora, temos curiosidade em perceber como funciona o teu processo criativo. 

Muito simples, não perco muito tempo a desenhar porque aborreço-me. Tenho a ideia, pesquiso referências e desenho. Tento que a ideia se sobressaia mais do que o próprio desenho. Acho que é isso que é a ilustração. As minhas referências são muito variadas, mas, em primeiro lugar, estão os cartoons editoriais da Reader’s Digest e New York Times. Depois existem ilustradores como o André Carrilho ou Tatsuro Kiuchi que gosto de seguir, apesar de serem completamente diferentes. Há uns anos, desde que li Here de Richard McGuire, senti que podia elevar a ilustração a outro nível.

3 – Partindo destes valores e referências, qual foi a maior dificuldade que encontraste neste processo de ilustrar Um Natal nos Açores, ou como o Pai Natal trocou as botas de canos pelos chinelos?

O tempo de execução foi curto e muitas vezes é complicado ter 3587 ideias em apenas 3 segundos. Às vezes queremos explorar uma ilustração até chegarmos a um resultado satisfatório ou até perfeito (na nossa cabeça, claro) e não podemos porque há que prosseguir para a próxima e respeitar prazos. Apesar disso, foi um desafio tentar representar os Açores consoante o traço que escolhi. Os Açores têm muitos tons de verde e a utilização de cores acabaria por facilitar a sua representação, mas, por outro lado, acabaria por tornar o processo muito demorado. De resto, as dificuldades não foram muitas. O Luís não impôs muitas regras. Agora a sério, imaginem o que é derramar sem querer a garrafa de água por cima do teclado no meio de um ambiente de stress e querer desenhar rapidamente com atalhos e as teclas não funcionarem. É dose.

4 – Para finalizar, tens outros projectos em mente? Para onde e como gostarias que a tua carreira progredisse?

Para já, só projetos pessoais. De um lado menos sério, estou a fazer uns mini livros ilustrados com situações do dia-a-dia e pensamentos meus. Para um lado mais sério e mais trabalhoso, é um registo diferente da ilustração que passa pelo documental. Sou fã de conceitos como a memória e a identidade. Pretendo reunir as minhas memórias visuais com textos e fotografias muito antigas de família, tentar encontrar um universo comum e explorar essa atmosfera intemporal. Não penso muito no futuro, nem sei onde isto vai dar mas sei que daqui a muitos anos, vou continuar com as minhas ideias e com os meus projetos pessoais, até porque é algo que me é intrínseco.

5 – Um jornalista do Correio dos Açores perguntou, na sua entrevista ao autor Luís Rego, se terias desenhado o livro com botas de cano calçadas, ou chinelos. Queres nos “ilustrar” nesta matéria?

Sempre com pantufas. As botas de cano ficam sempre à entrada de casa. Demasiado esterco.

 

Conheça 10 lindas ilustrações de Sara Azad:

Biografia:

Sara Azad nasceu em Ponta Delgada, em 1990. Finalizou o mestrado em Cinema Documental, na ESMAE, em 2014. Mais tarde, ingressou numa pós-graduação em Ilustração e Animação Digital, pela ESAD Matosinhos. Atualmente vive no Porto.

 

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