Neste artigo damos a conhecer algumas das manifestações culturais açorianas no Brasil, primeiro destino de emigração da Diáspora Açoriana.
A procura de melhores condições de vida, perseguir um sonho de riqueza, conhecer o mundo foram e são algumas das razões para a emigração açoriana. Os grandes destinos desta grande demanda açoriana são, por ordem histórica, Brasil, EUA, Bermudas, Havai e Canadá.
Nesses destinos, os açorianos criaram verdadeiras comunidades culturais – a tão conhecida Diáspora.
Neste artigo iremos dar a conhecer algumas manifestações dessa Diáspora no seu primeiro destino, o Brasil.
Um pouco de história
O grande fluxo de emigração ocorreu em 1847, com a saída de 6000 pessoas para os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro com o intuito de colonizá-los.
Mas já em 1742, um grupo de colonizadores açorianos tinha fundado a vila do Porto dos Casais, depois cidade de Porto Alegre e capital estadual do Rio Grande do Sul.
A herança cultural encontra-se disseminada no litoral continental do Brasil meridional e concentrada na ilha de Santa Catarina, com a arquitectura colonial portuguesa em alguns edifícios públicos, igrejas e casas, nomes de família como Silva, Pereira, Alves, Dias, Machado, Moreira, Cabral, Meneses ou Ramos, e o Culto do Divino Espírito Santo.
Influências açorianas no Brasil
Toponímia:
No Rio de Janeiro existe uma praça com o nome Antero de Quental, em Leblon.
Assim, como uma estação ferroviária.
Largo ou Praça dos Açorianos é um logradouro público da cidade de Porto Alegre. Nele localizam-se o moderno Monumento aos Açorianos, criado por Carlos Tenius, uma homenagem aos casais açorianos que colonizaram Porto Alegre em 1752. Na escultura de metal, os corpos unidos de pessoas fazem lembrar o casco de um navio.
Foto: Ricardo André Frantz
Folclore
O Grupo Folclórico Padre Tomás Borba da Casa dos Açores do Rio de Janeiro, com o seu grupo de violas e rancho, conta com cerca de 30 elementos entre os 15 e os 35 anos, sendo estes todos filhos ou netos de açorianos, cantando as músicas tradicionais dos Açores, como Tirana, Sapateia e Chamarrita com sotaque brasileiro.
O Grupo Folclórico da Casa dos Açores de Santa Catarina chama-se Raízes Açorianas, e o Rancho Folclórico da província Quero-Quero, no Rio Grande do Sul, inclui tocadores de viola e bandolim do Pico, além de apresentarem trajes e temas de quase todas as ilhas dos Açores.
Festas
Em Florianópolis, na ilha de Santa Catarina, comemora-se o Dia Estadual e o Dia Municipal do Manezinho, termo popularmente utilizado para designar os nativos de Florianópolis, devido à sua ascendência histórica de meados do século XVIII, de populações das ilhas dos Açores.
A Casa dos Açores de Santa Catarina organiza anualmente a Açor – Festa da Cultura Açoriana de Santa Catarina, com mostra de folclore, artesanato, religiosidade e gastronomia. É uma festa itinerante que passa pelas principais cidades brasileiras de povoamento açoriano no litoral catarinense.
Já a Casa dos Açores de São Paulo organiza a Semana Cultural que desenvolve temas de interesse açoriano como as tradições, Romeiros de São Miguel e os autores brasileiros de ascendência açoriana como Cecília Meireles e Machado de Assis.
Em Santo Antônio da Patrulha, Estado do Rio Grande do Sul, organizam-se Cavalhadas – que fazem lembrar as da Ribeira Grande – e a Moenda da Canção Nativa, um festival de música tradicional com preferência para temas de origem açoriana.
Culto do Divino Espírito Santo
Culto do Espírito Santo em Mogi das Cruzes, São Paulo. Foto: DR
No Rio de Janeiro, as Irmandades do Outeiro e da Praça Sete organizam o Ritual das Domingas para a reza do terço, a missa da Coroação na igreja do bairro, o cortejo da coroa e da bandeira e nalguns casos até com partilha popular das Sopas do Espírito Santo.
Em Mogi das Cruzes, em São Paulo, a festa é organizada por uma Irmandade brasileira há já 400 anos!
A Casa dos Açores de São Paulo também organiza as Festividades do Divino Espírito Santo há 40 anos, festividades, essas, que atraem quase 20.000 brasileiros, encerrando toda a rua do bairro paulista de Vila Carrão.
Outras Festas do Espírito Santo acontecem nos bairros de Santa Isabel e Parque do Carmo, na freguesia do Ó ou no município de Mogi das Cruzes.
A Divindade do Divino Espírito Santo em Florianópolis tem cerca de 800 irmãos, além de haver uma Rua do Espírito Santo, assim como a Igreja do Divino Espírito Santo.
Em Salvador da Bahia, São Paulo, as Festas do Divino Espírito Santo são inspiradas nas festas terceirenses, com partilha de massa sovada e alcatra de carne.
Carretada
A cidade de Gravataí, no Rio Grande do Sul, organiza há 27 anos a Carretada que envolve 100 carros de bois, recuperando o hábito introduzido pelos açorianos deste meio de transporte.
Baile de Masquê
Em Santo Antônio de Patrulha, Estado do Rio Grande do Sul, organizam-se Bailes de Masquê, uma apresentação de danças do folclore local, realizada somente por homens mascarados (de homens e mulheres) formando pares. Apresentam-se geralmente em festas do Divino Espírito Santo ou do Padroeiro, da localidade onde dançam.
O número dos pares que se apresentam são oito, doze ou dezasseis, mais o casal “Barba-de-Pau”. Este casal não dança com o grupo, mas é o principal encarregado da parte cómica. Correm, dançam, divertem as crianças e adultos durante todo o tempo. Ele apresenta-se com um macacão revestido de barba-de-pau. Ela, com trejeitos ora femininos, ora masculinos; é escandalosa, divertida e engraçada.
Procissão do Senhor dos Passos
Foto: Cristiano Andujar
Procissão que ocorre em Florianópolis, Santa Catarina, é considerada agora património cultural do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), sendo a mais antiga festa religiosa da capital, esta relembra os momentos finais da vida de Jesus Cristo.
Arquitectura
Foto: DR
Em Salvador da Bahia, São Paulo, o centro histórico da cidade é conhecido pela arquitectura portuguesa, de inspiração terceirense, sendo considerado Património da Humanidade pela UNESCO, sendo cidade irmã de Angra do Heroísmo desde essa data.
Gravataí, Caçapava do Sul, Guaíba, Jaguarão, Cangaçu, Osório, Pelotas, Piratini, Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo, Santa Maria, Santo Antônio da Patrulha e Viamão são as cidades brasileiras do Estado do Rio Grande do Sul envolvidas no projecto “Vestígios Açorianos”.
A antiga Casa da Rua Vinagre, nº 19, actualmente Museu Juca Maciel, em Santo Antônio da Patrulha, Rio Grande do Sul faz parte da Rota dos “Vestígios Açorianos”. Foto: DR
Artesanato
Foto: Argosfoto
Na grande Florianópolis, a antiga tradição do artesanato açoriano é representada nos trançados de rede, rendas de bilro e tramóias, tapeçarias de tear e na confecção de esteiras, balaios e gaiolas.
Prêmio Açorianos
O Prêmio Açorianos é uma premiação concedida pela Prefeitura de Porto Alegre, através da sua Secretaria de Cultura, para os melhores do ano nas áreas de música, teatro, dança, literatura e artes plásticas e é considerado o mais importante prémio cultural do estado do Rio Grande do Sul.
Instituído pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre em 1977, o Prêmio Açorianos foi originalmente criado para premiar os melhores de cada ano nas áreas de teatro e dança.
O prémio foi criado em 1977 pelo então prefeito Guilherme Socias Villela, devido à intensa movimentação teatral e pelo aumento progressivo do público de teatro. O nome do prémio foi escolhido como uma homenagem aos açorianos, fundadores e primeiros habitantes da cidade de Porto Alegre. Décadas mais tarde, o Prêmio Açorianos foi estendido também às áreas de Literatura, Música e Dança, e Artes Plásticas, respectivamente, pelos de Maio de 1994, de 27 de Maio de 1996, e de 12 de Setembro de 2006.
Actualmente, cada área artística realiza uma cerimónia de premiação em datas e locais específicos, excepto Teatro e Dança, as quais são realizadas em conjunto. Ao longo dos anos foram realizadas premiações em espaços culturais como o Theatro São Pedro, Teatro Renascença, Auditório Araújo Vianna e o Teatro do Bourbon Country.
Na área de Literatura, os vencedores de cada categoria, concorrem ao “Livro do Ano”, que recebe o prémio de 10 mil reais. Em 2010, o Prêmio Açorianos passou também a premiar obras inéditas, com a categoria Criação Literária. Cada ano, um género literário é contemplado e a obra vencedora recebe um prémio de 10 mil reais e tem seu livro editado pela Editora da Cidade (SMC/PMPA).
Além das premiações de cada área em diferentes categorias, a cada edição também são escolhidos um ou mais homenageados. Os jurados ainda podem conceder menções honrosas.
Estas são apenas algumas influências culturais açorianos no Brasil. Muitas mais existirão já com peculiaridades próprias. Comente aqui mais alguma influência ou manifestações culturais açorianas no Brasil e diga-nos qual a que o impressionou mais.