Publicidade

Exposição “Articulações e Outros Cortes” de Vítor Teves
Julho 14 @ 9:00 - 12:30

A exposição “Articulações e Outros Cortes”, que agora se inaugura na Casa da Cultura da Lagoa, reúne uma variedade de trabalhos sobre diversos suportes do poeta e artista Vítor Teves (n. 1983), criadas entre 2019 e 2023. Não sendo uma retrospectiva, esta exposição não deixa de, ao mesmo tempo, apresentar-se como uma antológica exemplificativa do que tem feito o artista e poeta, que continua a ser completamente desconhecido do público, fruto de um percurso criado, por opção pessoal, na sombra.
Nesta exposição – a primeira individual – o artista apresenta aquilo que tem sido as suas pesquisas curatoriais, críticas, poéticas e plásticas que se centram em dois grandes blocos: a) a Escrita (da poesia mais convencional à Poesia Visual de forte pendor conceptual) e b) a Pintura/Desenho (sempre na linha da abstracção expressionista, hiperminimalista e do mais recente formalismo zombie).
O título da amostra parte do título de uma das composições mais interessantes do compositor húngaro György Ligeti (1923-2006) – Artikulation for tape, de 1958. Segundo o que nos disse o artista, esta exposição foi idealizada, numa primeira versão, em 2003, quando o artista contava com vinte anos, um projecto que foi, à altura, apresentado ao Posto de Turismo da cidade da Ribeira Grande, cidade onde vive o artista, mas nunca concretizado. Vinte anos depois, e em centenário do nascimento de Györy Ligeti (1923-2006), Vítor Teves recupera a ideia inicial de fazer do espaço de uma galeria “um espaço de escrita musical a larga escala” onde a transposição musical coincide com os primeiros ensinamentos da história da Pintura Abstracta: a ligação íntima entre música e pintura. A partitura de Györy Ligeti – Artikulation for tape (1958) – que dá mote à exposição e que serviu de base para a obra “Articulações, 2023” de Vítor Teves, é, ela mesma, uma evocação e homenagem ao trabalho de pesquisa realizado por Kandinsky nos seus últimos trabalhos na Bauhaus. “Articulações, 2023”, de Vítor Teves, aponta assim para um início duplo: a abstracção dos anos 20/30 e, simultaneamente, para os anos do minimalismo experimental e musical dos anos 50/60; assim como para um decalque a “Lever” de Carl Andre (1966), que ganha nesta exposição um duplo sarcasmo (Político-Insitucional ligado às artes).
Para esta exposição o artista criou as seguintes obras que poderão ser vistas no espaço da Casa da Cultura da Lagoa: “Buonarroti” (12 telas: 4 com armação e 8 sem armação, mais plinto com t-shirt); “O Conselho Regional dos Mudos da (Agri)Cultura da Extrema-Direita” (24 pacotes de leite marca Nova Açores); “Cadela I e Cadela II – altar pela sobrevivência de uma palavra” (dois painéis, um bibelot e três desenhos); “Niké Negra II” (escultura de madeira e várias fitas) e “Era da Escultura Suspensa” (escultura em papel suspenso).
Presente na exposição estão outros trabalhos mais antigos como: “Entropia em azul” (2018); “Quero que o Martin Kippenberg se foda!” (2020) (seis grandes colagens sobre papel); “As Vantagens e Desvantagens de ser artista e poeta açoriano” (2019) (desenhos e manifesto) e os acrílicos “Piratas” (2022) e “Homenagem a Toroni” (2021). Além dessas obras, construída sempre no jogo entre “articulações” e “cortes”, são visíveis uma série de “Cadernos de artista” e uma selecção de livros de poesia publicado desde 2017, a que se juntam algumas antologias. Segundo o autor os cadernos já ascenderam aos quarenta e estão dispersos entre poetas e outros amigos por todo o país.
Toda a exposição explora duas forças contrárias em permanente tensão, sendo que o “intervalo”, o “diálogo” e o “contágio” são os centros de toda a exploração e pesquisa. O artista procurou mostrar – ainda que sucintamente – as várias áreas em que tem trabalhado: curadoria; poesia; crítica e pintura, demonstrando um trabalho não só constante como consistente nas suas diversas metamorfoses, ideia cara tanto a Picasso como a Jorge de Sena; dois pilares na formação deste artista.
Uma das características de todo o seu trabalho, escrito e plástico, é o carácter satírico, assim como a apropriação, a homenagem e a experimentação estreita entre música e pintura e poesia, o que faz com que este seja um trabalho híbrido, plural e, simultaneamente, eclético, denso (ainda que persista a ideia de “ilusão”, “truque de facilitismo”), um trabalho que espelha as novas ideias sobre a pintura ou sobre a Altermodernidade, na esteira do pensamento, entre outros, de Nicolas Bourriaud. Durante a exposição o espectador é convidado a ouvir “Artikulation for Ligeti” (1958).
Nota Biográfica:
Vitor Teves:
Nasceu em 1983, em Ponta Delgada e vive actualmente na Ribeira Grande, S. Miguel. É Licenciado em História da Arte pela Universidade do Porto e Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes com a dissertação Transversalidades: a propósito de Invisíveis Correntes de João Miguel Fernandes Jorge, dissertação orientada por Rosa Maria Martelo e Maria de Fátima Outeirinho.
É poeta, curador, crítico de arte e artista plástico. Na qualidade de curador, destaque para a exposição no Museu Carlos Machado em Ponta Delgada – “A (im) possibilidade de uma ilha”, em 2020, onde reuniu cerca de 20 artistas e escritores açorianos.
Livros Publicados:
– Dentes tortos (2017), edição de autor;
– Cabra Bem Cabra (2018, com heterónimo Barba Stronger), Enfermaria 6;
– Lamarim (2019, prefácio de Tatiana Faia, Editora Fresca (Poetria, Porto) – apresentado por Rosa Maria Martelo;
– Arpoeiro, 2020 – ainda por sair – Prémio MiratecArts, Pico.
– Ninurta seguido de Apêndice Branca, posfácio de Pedro Eiras, edição de autor;
– Ócritus e As coisas importantes – Poesia Impossível, 2022;
– Amarna – Antologia Breve (a sair) – Poesia Impossível, 2023.
Antologias:
– Caderno #5 – Os pastéis ali não valem uma beata, Enfermaria 6;
– A Terceira Margem – Antologia Luso-Brasileira, Enfermaria 6;
– Antologia 100 anos, 100 poetas – da Universidade do Porto, organização de Isabel Morujão;
– Into The Azorean Sea – Bilingual Anthology of Azorean Poetry – tradução e organização Diniz Borges (2023)
Festivais de poesia / outros:
– Feira do Livro, Porto, 2019;
– Fringe, Pico, 2020;
– Fringe, Pico, 2021;
– SMOG, Angra do Heroísmo, 2022.
– Feira do Livro, Lisboa, 2023.
Revistas de Poesia (selecção):
– Enfermaria 6 (online);
– Bacana;
– Gazeta de Poesia inédita;
– Revista Atlântida;
– Revista Grotta #5.
Exposições:
2001 – Exposição Descobrir o Lápis, Posto de Turismo, Ribeira Grande.
(…)
2020 – Exposição colectiva Pequenos Formatos, Galeria Monumental, Lisboa.
2021 – Exposição colectiva Pequenos Formatos, Galeria Monumental, Lisboa.
2022 – Pares – Mostra de projectos apoiados pelo programa Pares entre 2019 e 2021, Parque Atlântico, Ponta Delgada